"Há palavras que nos beijam" (Alexandre O'Neill), que nos tocam que nos marcam, que nos transformam...

Textos, pretextos e contextos pretende ser um blogue de palavras...palavras sentidas, vividas ou, apenas, ditas. Pretende, também, ser um blogue de transformações...em mim e em quem o lê. Como dizia Fernando Pessoa, "Sentir? Sinta quem lê!"

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Fragmentos

Fragmentos da última aula de Educação e Multiculturalismo

Lágrima de preta

Encontrei uma preta
que estava a chorar,

pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.




António Gedeão


Perder a memória do passado é para o presente falhar o futuro” – Eduardo Lourenço




Provérbio Indiano:
Paus tortos dão chamas direitas.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Pretextos

Silêncio
Pesa, pesa, pesa
A noite não termina nunca,
As horas passam no compasso dos minutos intermináveis
Tocar-te no escuro da noite
Na ilusão do dia
Na fugacidade dos bancos do comboio.
Silêncio
Perdura, perdura, perdura
A tua voz soa
Ao fundo
Inaudível
Quebra, quebra, quebra
Quero ouvir-te
Soa!
Foi inevitável evitar-te.
Eu não queria, não podia...
Mas as forças ficaram pressas nesta teia
Do raciocínio.
O amanhã nunca existirá entre nós
E o ontem também nunca existiu
Porque a velocidade da resposta
Perdeu a sua intensidade antes de chegar a ti.

Out/2007

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008